segunda-feira, abril 02, 2007

Seus Dias de Fartura Estão Contados

Melhor dizendo: “essa sopa vai acabar” ou "não acredito em nínguem com mais de 30 anos"

Enfim, mais um filme. Trata-se do filme Die Fetten Jahre Sind Vorbei, em Português leva o título de “Os Edukadores”.

Por desenho é um filme político. Discute política e procura discutir o aspecto da abundância ou do supérfluo. O filme começa com uma família chegando a sua mansão depois de uma viagem. As cenas entremeiam tomadas da chegada com as imagens das câmeras de vigilância mostradas nos monitores internos da mansão. A família toma um susto ao encontrar a casa toda revirada e com os móveis todos fora do lugar. Numa pirâmide de cadeiras, no meio da sala, a mãe retira o bilhete. Nele está escrito o título do filme. Nele há assinatura dos responsáveis, os "educadores".

A cena seguinte mostra uma demonstração de jovens contra as “SweatShops”, essas “fábricas” que ao redor do mundo desrespeitam as leis trabalhistas e produzem artigos com preços muito inferiores se comparados com fábricas que seguem a legislação. Um grupo de jovens na Alemanha, distribui folhetos alertando consumidores para que não comprem produtos fabricados em “SweatShops”.

A pergunta é por que jovens na Alemanha, estão preocupados com isso? Só porque são jovens? Porque têm o que comer e, portanto podem perder tempo reclamando de práticas que são exercidas em outros lugares do mundo. Será que são realmente solidários e lutam por um mundo diferente?

Dois desses jovens são os “educadores”. Eles querem levar pânico aos ricos de Berlin. Querem que os ricos sintam-se inseguros. Querem questioná-los: por que tanto luxo? Dessa maneira acreditam que estão fazendo uma revolução pacífica, ao questionarem a opulência.

Claro que ao fazerem isso, apesar de sua intenção revolucionária ser pacifista, estão seriamente violando a liberdade de outros. Enfim estão violando a casa de outrem.

O ponto central do filme, que no ano de 2004, foi aclamado pela crítica alemã como o melhor filme do ano é que se trata de um questionamento feito por parte da sociedade alemã. O questionamento, que no filme aparece como sendo oriundo de uma parcela da juventude, é por si só um fato importante. Aí reside o ponto crucial do filme como argumento político, o questionamento da nova sociedade alemã.

A história do filme passa da cidade ao campo, uma casa na montanha. Aqui os quatro protagonistas dialogam sobre política. Três jovens e um executivo. O executivo é refém dos três. A influência dos anos de partido verde do diretor, Hans Weingartner, um austríaco, é marcante nessa parte. Por acaso parte dessas cenas foram rodadas no Tirol.

O cenário, verde, é palco: da discussão política, da discussão dos hábitos sexuais, da discussão de felicidade, dos momentos de convívio nas refeições, do carteado e dos conflitos amorosos dos jovens. Esses são conflitos da sociedade alemã, não são novos, mas as posições são diferentes. Existe a preocupação socialista, a solidariedade com os povos oprimidos, a preocupação com as favelas do terceiro mundo que assistem a filmes violentos, e a preocupação com exploração dos trabalhadores desses países que não ganham salários dignos. Nesse ponto a argumentação do executivo é que a exploração faz parte do humano, que todo grupamento logo escolhe um líder.

Num ambiente, verde, o refém discute a posição dos "educadores". Argumenta que não é certa a sua prisão, mas relata que, quando jovem, foi da juventude socialista, chegando a trabalhar junto com Rudi Dutschke. Essa revelação, muda sua convivência com os seqüestradores. O executivo em certa parte diz alguma coisa como: “meu pai dizia que com menos de 30 não ser esquerdista era falta de imaginação e que ser esquerdista com mais de 30 era burrice” (interessante notar esse clichê no discurso do Presidente do Brasil). O executivo justifica sua gradativa mudança, “de repente me vi votando de maneira conversadora”, pela dinâmica da vida: desejo de um carro novo, com ar; desejo de mais conforto material para esposa, para os filhos... ". No entanto, o contato com os jovens, é marcante... (vide bilhete na parede quase no fim do filme).

O discurso dos jovens pretende ser revolucionário, como foi o dos jovens de gerações anteriores, mas hoje parece deslocado na face multifacetada da sociedade global. Segundo entrevista do diretor, a pretensão era a de alavancar reações, assim como aquelas que levaram a queda do muro.

A confusão dos jovens quanto à prática política leva-os das boas intenções ao despego pela luta política democrática. De jovens socialistas passam a jovens terroristas. Pelo que li na rede, a versão exportação, não foi o caso do Brasil, suprime a referência explícita a transformação.

Enfim, um filme para pensar. A história ensina, mas muitas vezes somos surdos e cegos.

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