sábado, abril 14, 2007

A Força da Mulher

Acabo de ler no Globo On line uma entrevista (traduzida) de Ken Loach diretor que ganhou a palma de ouro de Cannes em 2006 com o filme "Ventos da Liberdade" ("The wind that shakes the barley"), cujo o título em Português é uma versão, não uma tradução. Enfim...

Gostei de uma resposta do diretor, que na verdade é um resumo do que é cinema.

Aqui vai: ""Ventos da Liberdade" te tocou? Em que pontos? Que questões ele fez você refletir? Essas são perguntas clássicas essenciais ao entendimento de qualquer dramaturgia. O aspecto mais importante da compreensão de um filme é entender como ele pode te modificar. Depois de entender isso, aí você julga o estilo. Para mim, estilo é o que dá suporte ao conteúdo de uma obra artística. E conteúdo é o que me interessa." (veja toda a entrevista aqui).

Ontem vi "Don´t Come Knocking" em Português com o título de Estrela Solitária. A dupla responsável pelo filme é conhecida. Wim Wenders and Sam Shepard. Deles, é um filme fantástico: Paris, Texas.

O filme não tem o impacto de Paris, Texas, mas é um bom filme. É intimista e tem a característica mencionada por Loach, faz você refletir.

Cabe a Shepard a visão, do drama. Drama familiar. Filho abandona família, passa a viver em função do momento, mas sem estabelecer laços. Sua profissão permite uma vida boêmia. Chega ao ponto de ruptura e foge. Procura a mãe que não vê há 30 anos! No encontro, a mãe, excelente desempenho de Eva Marie Saint, conta-lhe de uma mulher que é mãe de seu neto. Ele (Howard) sai em procura do filho. Um pouco de "road-movie" leva-o a Montana. Aqui nota-se uma influência de David Lynch nas cenas do cantor (filho). O filme é perfeito ao passar o clima do meio-oeste. O chapéu é sempre presente.

Howard tenta entender o que está ocorrendo, tenta estabelecer contato com um filho, que nunca viu, apenas ajudou a conceber. No meio desse drama, ocorre um diálogo marcante. Howard procura a mãe do filho e afirma que na verdade é ela que ele queria re-encontrar. A cena é fantástica. Jessica Lange, a imagem de linda mulher americana, já com os traços da idade, trava um diálogo ríspido mais bastante esclarecedor da alma humana. Ela não será o porto de um homem perdido ("Don´t Come Knocking"), ele terá que se re-encontrar. O seu discurso é cortante e o movimento da camera é simplesmente uma aula de cinema!

O filme termina com o foco fixo de uma placa na estrada saindo de Montana na direção de Utah. A placa diz "Divide 1 Wisdom 52". A distância para a sabedoria é sempre mais longa do que para o isolamento. Apesar de acreditar que o filme tem alguns pontos um pouco exagerados, em função basicamente do texto, é sem dúvida um filme de autor, e ter Wim Wenders como diretor é uma garantia de ótimo cinema. Como reflexão mostra a necessidade de estarmos juntos e não separados.

Como já dizia Douglas Adams: 42. Olha que assitindo a novela das 8 horas da Tv Globo (Paraíso Tropical), ontem, presenciei uma cena extremamente semelhante as situações do filme de Wim Wenders. A cena entre Glória Pires e Marcello Anthony, sobre um filho de seus personagens, que só dezoito anos depois, é anunciado ao pai. Aqui, a fala da mãe reagindo a um comentário condenatório do, agora, pai, foi um primor de interpretação e força feminina. Um verdadeiro show do texto e da atriz.

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