segunda-feira, junho 03, 2013

Maracanã

Palavra tupi-guarani nomeia o rio que nasce no maciço da Tijuca e corre na direção da Baía de Guanabara via o Canal do Mangue.  No seu caminho foi erguido um estádio, que levou o nome do rio de maneira popular e depois foi batizado de estádio Mário Filho.  Esse estádio foi construído para sediar a copa do mundo de 1950.  Foi, durante muitos anos, o maior estádio do mundo em número de espectadores, chegando a receber 199 mil torcedores.  Nas eliminatórias de 1969 (188 mil torcedores ) assisti parte do jogo com o Paraguai em cima de uma geladeira da Kibon, diretamente sob o teto do estádio.

O Maracanã sempre foi um lugar familiar.  Frequento-o desde dez anos de idade.  Fui com meu pai uma ou duas vezes, mas quem me familiarizou com ele foi, sem dúvida, o tio Jonir. Íamos com o Cesar e o Edgar nas cadeiras sem número. Por algum tempo fui com meu amigo Juarez, e depois ia com frequência com meus filhos Pedro e Julio, quase sempre na arquibancada.  Posso dizer que é um dos lugares públicos que mais frequentei durante a vida, em  muitos campeonatos indo quase toda a semana.
Desde o último jogo em 2010, venho acompanhando de fora e, de certa maneira sofrendo, com sua demolição parcial. Foi muito angustiante acompanhar os vários estágios durante esses dois anos.  Aprendemos a ir de trem ao Engenhão, mas sem comparação.
Ontem voltei ao Maracanã depois de tanto tempo.  Estava no Jardim Botânico, onde vi a bela exposição do Sebastião Salgado, quando me chamou meu irmão Marcio.  Um convite de última hora.  Com o total apoio de Marta, refiz meus planos do dia e fui me encontrar com ele, com a Carol e o Rafa.  Fui de táxi.  A Avenida Maracanã e o viaduto estavam fechados, então saltei no início do viaduto e fui a pé, tranquilamente, até a estátua do Bellini.  Daí até ao lugar (O, 13, 223) foi fácil.  A organização da entrada foi do mesmo tipo da usada no Pan em 2007, onde assisti a final do futebol feminino.
Quando cheguei na cadeira, o jogo já tinha começado.  Caramba!  É estranho:  mesmo endereço, mas um lugar totalmente diferente.  Completamente diferente, outro, novo.  O meu Maracanã não existe mais, tenho que refazer os laços para esse novo espaço, que espero voltar muitas vezes, mas de lembrança, só o local geográfico as margens do rio Maracanã.
O que mais posso dizer?  Visibilidade de onde estava: ótima.  Iluminação perfeita.  Ótimo conforto, mas com problema sério de som.  O som, decibéis, estava acima do máximo permitido por lei.  As telas gigantes em nada ajudam e geram desconforto porque parecem fragilmente ligadas ao teto de plástico.  Sobre o jogo, bom isso é outra estória; posso dizer que foi ok, mas certamente foi coadjuvante às emoções de retornar a casa e vê-la outra. 
Estou ansioso para voltar, principalmente quando for à vez do Flamengo voltar a casa.  O ponto é que mudou:  o que ficou, foi saudade.  Agora é um processo lento de adaptação.
Obrigado Marcio.

sexta-feira, janeiro 04, 2013

Manet no Rio de Janeiro

No fim do ano passado fui visitar a exposição Impressionistas no Centro Cultural Banco do Brasil.

Espetacular, apesar da fila. Ao sair encontrei na livraria um livro que despertou minha atenção: era sobre cartas que o pintor Manet escreveu aos 17 anos, quando de sua passagem pelo Rio de Janeiro a bordo de um navio escola para rapazes interessados em ingressar na escola Naval Francesa.

  Abaixo vão trechos do livro, que nos permitem ver como preconceitos ditam as visões de cada um.
"Há a bordo, para nos servir, quatro pobres grumetes e dois aprendizes, os quais são tratados a socos e pontapés; o que, asseguro-te, os torna extremamente obedientes. O camareiro, que, como já te disse, é negro, está encarregado da educação desse pobres e não os poupa de umas boas surras quando saem de linha."
"Pelas ruas vêem-se somente negros e negras, pois os brasileiros saem pouco, e as brasileiras menos ainda."
"Neste país, todos os negros são escravos e tem aspecto embrutecido. O poder que os brancos exercem sobre eles é extraordinário. Tive a oportunidade de visitar um mercado de escravos: espetáculo bastante revoltante para nós."
"Visitei várias igrejas. Nenhuma delas é comparável às nossas: são cobertas de dourado e totalmente iluminadas, mas sem qualquer gosto."
"Nesta cidade, utiliza-se somente papel-moeda ou moedas de cobre, e tudo é terrivelmente caro."
"Diariamente, uma chalupa de terra vem a bordo carregada de bananas, laranjas, ananases etc; e tudo a excelentes preços."
"No domingo gordo, durante todo oo dia, passei pela cidade. Às 3 horas da tarde, todas as mulheres brasileiras saem ou às janelas ou aos balcões de suas casas e atiram, em todos os homens que passam pela rua, umas bolas de cera coloridas, a que dão o nome de limões. Em várias ruas por onde passei, seguindo o costume do país, fui atacado. Trazia os meus bolsos cheios desses limões e respondi da melhor maneira possível aos assaltos, o que é muito apreciado."
"A cidade, ainda que feia, tem, aos olhos de um artista, um caráter particular."
"Quanto aos brasileiros, são preguiçosos e parecem não ter muita energia. No tocante as brasileiras, são muito distintas e não merecem a reputação de levianas que têm na França. Nínguem pode ser mais recatada e mais tola do que uma brasileira"
"Os arredores da cidade são incomparavavelmente bonitos, nunca vi uma natureza tão bela".
 
Edouard Manet, Viagem ao Rio - Cartas da Juventude 1848-1849 -  
José Olympio Editora 2 ed. 2008.