sexta-feira, janeiro 04, 2013

Manet no Rio de Janeiro

No fim do ano passado fui visitar a exposição Impressionistas no Centro Cultural Banco do Brasil.

Espetacular, apesar da fila. Ao sair encontrei na livraria um livro que despertou minha atenção: era sobre cartas que o pintor Manet escreveu aos 17 anos, quando de sua passagem pelo Rio de Janeiro a bordo de um navio escola para rapazes interessados em ingressar na escola Naval Francesa.

  Abaixo vão trechos do livro, que nos permitem ver como preconceitos ditam as visões de cada um.
"Há a bordo, para nos servir, quatro pobres grumetes e dois aprendizes, os quais são tratados a socos e pontapés; o que, asseguro-te, os torna extremamente obedientes. O camareiro, que, como já te disse, é negro, está encarregado da educação desse pobres e não os poupa de umas boas surras quando saem de linha."
"Pelas ruas vêem-se somente negros e negras, pois os brasileiros saem pouco, e as brasileiras menos ainda."
"Neste país, todos os negros são escravos e tem aspecto embrutecido. O poder que os brancos exercem sobre eles é extraordinário. Tive a oportunidade de visitar um mercado de escravos: espetáculo bastante revoltante para nós."
"Visitei várias igrejas. Nenhuma delas é comparável às nossas: são cobertas de dourado e totalmente iluminadas, mas sem qualquer gosto."
"Nesta cidade, utiliza-se somente papel-moeda ou moedas de cobre, e tudo é terrivelmente caro."
"Diariamente, uma chalupa de terra vem a bordo carregada de bananas, laranjas, ananases etc; e tudo a excelentes preços."
"No domingo gordo, durante todo oo dia, passei pela cidade. Às 3 horas da tarde, todas as mulheres brasileiras saem ou às janelas ou aos balcões de suas casas e atiram, em todos os homens que passam pela rua, umas bolas de cera coloridas, a que dão o nome de limões. Em várias ruas por onde passei, seguindo o costume do país, fui atacado. Trazia os meus bolsos cheios desses limões e respondi da melhor maneira possível aos assaltos, o que é muito apreciado."
"A cidade, ainda que feia, tem, aos olhos de um artista, um caráter particular."
"Quanto aos brasileiros, são preguiçosos e parecem não ter muita energia. No tocante as brasileiras, são muito distintas e não merecem a reputação de levianas que têm na França. Nínguem pode ser mais recatada e mais tola do que uma brasileira"
"Os arredores da cidade são incomparavavelmente bonitos, nunca vi uma natureza tão bela".
 
Edouard Manet, Viagem ao Rio - Cartas da Juventude 1848-1849 -  
José Olympio Editora 2 ed. 2008.