terça-feira, abril 17, 2007

Maria Lenk

Um exemplo de dedicação à natação. Uma atleta a vida inteira.
Era sempre uma emoção vê-la nadando no Flamengo. Que disposição!

Fica aqui a homenagem a essa grande esportista.

sábado, abril 14, 2007

A Força da Mulher

Acabo de ler no Globo On line uma entrevista (traduzida) de Ken Loach diretor que ganhou a palma de ouro de Cannes em 2006 com o filme "Ventos da Liberdade" ("The wind that shakes the barley"), cujo o título em Português é uma versão, não uma tradução. Enfim...

Gostei de uma resposta do diretor, que na verdade é um resumo do que é cinema.

Aqui vai: ""Ventos da Liberdade" te tocou? Em que pontos? Que questões ele fez você refletir? Essas são perguntas clássicas essenciais ao entendimento de qualquer dramaturgia. O aspecto mais importante da compreensão de um filme é entender como ele pode te modificar. Depois de entender isso, aí você julga o estilo. Para mim, estilo é o que dá suporte ao conteúdo de uma obra artística. E conteúdo é o que me interessa." (veja toda a entrevista aqui).

Ontem vi "Don´t Come Knocking" em Português com o título de Estrela Solitária. A dupla responsável pelo filme é conhecida. Wim Wenders and Sam Shepard. Deles, é um filme fantástico: Paris, Texas.

O filme não tem o impacto de Paris, Texas, mas é um bom filme. É intimista e tem a característica mencionada por Loach, faz você refletir.

Cabe a Shepard a visão, do drama. Drama familiar. Filho abandona família, passa a viver em função do momento, mas sem estabelecer laços. Sua profissão permite uma vida boêmia. Chega ao ponto de ruptura e foge. Procura a mãe que não vê há 30 anos! No encontro, a mãe, excelente desempenho de Eva Marie Saint, conta-lhe de uma mulher que é mãe de seu neto. Ele (Howard) sai em procura do filho. Um pouco de "road-movie" leva-o a Montana. Aqui nota-se uma influência de David Lynch nas cenas do cantor (filho). O filme é perfeito ao passar o clima do meio-oeste. O chapéu é sempre presente.

Howard tenta entender o que está ocorrendo, tenta estabelecer contato com um filho, que nunca viu, apenas ajudou a conceber. No meio desse drama, ocorre um diálogo marcante. Howard procura a mãe do filho e afirma que na verdade é ela que ele queria re-encontrar. A cena é fantástica. Jessica Lange, a imagem de linda mulher americana, já com os traços da idade, trava um diálogo ríspido mais bastante esclarecedor da alma humana. Ela não será o porto de um homem perdido ("Don´t Come Knocking"), ele terá que se re-encontrar. O seu discurso é cortante e o movimento da camera é simplesmente uma aula de cinema!

O filme termina com o foco fixo de uma placa na estrada saindo de Montana na direção de Utah. A placa diz "Divide 1 Wisdom 52". A distância para a sabedoria é sempre mais longa do que para o isolamento. Apesar de acreditar que o filme tem alguns pontos um pouco exagerados, em função basicamente do texto, é sem dúvida um filme de autor, e ter Wim Wenders como diretor é uma garantia de ótimo cinema. Como reflexão mostra a necessidade de estarmos juntos e não separados.

Como já dizia Douglas Adams: 42. Olha que assitindo a novela das 8 horas da Tv Globo (Paraíso Tropical), ontem, presenciei uma cena extremamente semelhante as situações do filme de Wim Wenders. A cena entre Glória Pires e Marcello Anthony, sobre um filho de seus personagens, que só dezoito anos depois, é anunciado ao pai. Aqui, a fala da mãe reagindo a um comentário condenatório do, agora, pai, foi um primor de interpretação e força feminina. Um verdadeiro show do texto e da atriz.

segunda-feira, abril 02, 2007

Seus Dias de Fartura Estão Contados

Melhor dizendo: “essa sopa vai acabar” ou "não acredito em nínguem com mais de 30 anos"

Enfim, mais um filme. Trata-se do filme Die Fetten Jahre Sind Vorbei, em Português leva o título de “Os Edukadores”.

Por desenho é um filme político. Discute política e procura discutir o aspecto da abundância ou do supérfluo. O filme começa com uma família chegando a sua mansão depois de uma viagem. As cenas entremeiam tomadas da chegada com as imagens das câmeras de vigilância mostradas nos monitores internos da mansão. A família toma um susto ao encontrar a casa toda revirada e com os móveis todos fora do lugar. Numa pirâmide de cadeiras, no meio da sala, a mãe retira o bilhete. Nele está escrito o título do filme. Nele há assinatura dos responsáveis, os "educadores".

A cena seguinte mostra uma demonstração de jovens contra as “SweatShops”, essas “fábricas” que ao redor do mundo desrespeitam as leis trabalhistas e produzem artigos com preços muito inferiores se comparados com fábricas que seguem a legislação. Um grupo de jovens na Alemanha, distribui folhetos alertando consumidores para que não comprem produtos fabricados em “SweatShops”.

A pergunta é por que jovens na Alemanha, estão preocupados com isso? Só porque são jovens? Porque têm o que comer e, portanto podem perder tempo reclamando de práticas que são exercidas em outros lugares do mundo. Será que são realmente solidários e lutam por um mundo diferente?

Dois desses jovens são os “educadores”. Eles querem levar pânico aos ricos de Berlin. Querem que os ricos sintam-se inseguros. Querem questioná-los: por que tanto luxo? Dessa maneira acreditam que estão fazendo uma revolução pacífica, ao questionarem a opulência.

Claro que ao fazerem isso, apesar de sua intenção revolucionária ser pacifista, estão seriamente violando a liberdade de outros. Enfim estão violando a casa de outrem.

O ponto central do filme, que no ano de 2004, foi aclamado pela crítica alemã como o melhor filme do ano é que se trata de um questionamento feito por parte da sociedade alemã. O questionamento, que no filme aparece como sendo oriundo de uma parcela da juventude, é por si só um fato importante. Aí reside o ponto crucial do filme como argumento político, o questionamento da nova sociedade alemã.

A história do filme passa da cidade ao campo, uma casa na montanha. Aqui os quatro protagonistas dialogam sobre política. Três jovens e um executivo. O executivo é refém dos três. A influência dos anos de partido verde do diretor, Hans Weingartner, um austríaco, é marcante nessa parte. Por acaso parte dessas cenas foram rodadas no Tirol.

O cenário, verde, é palco: da discussão política, da discussão dos hábitos sexuais, da discussão de felicidade, dos momentos de convívio nas refeições, do carteado e dos conflitos amorosos dos jovens. Esses são conflitos da sociedade alemã, não são novos, mas as posições são diferentes. Existe a preocupação socialista, a solidariedade com os povos oprimidos, a preocupação com as favelas do terceiro mundo que assistem a filmes violentos, e a preocupação com exploração dos trabalhadores desses países que não ganham salários dignos. Nesse ponto a argumentação do executivo é que a exploração faz parte do humano, que todo grupamento logo escolhe um líder.

Num ambiente, verde, o refém discute a posição dos "educadores". Argumenta que não é certa a sua prisão, mas relata que, quando jovem, foi da juventude socialista, chegando a trabalhar junto com Rudi Dutschke. Essa revelação, muda sua convivência com os seqüestradores. O executivo em certa parte diz alguma coisa como: “meu pai dizia que com menos de 30 não ser esquerdista era falta de imaginação e que ser esquerdista com mais de 30 era burrice” (interessante notar esse clichê no discurso do Presidente do Brasil). O executivo justifica sua gradativa mudança, “de repente me vi votando de maneira conversadora”, pela dinâmica da vida: desejo de um carro novo, com ar; desejo de mais conforto material para esposa, para os filhos... ". No entanto, o contato com os jovens, é marcante... (vide bilhete na parede quase no fim do filme).

O discurso dos jovens pretende ser revolucionário, como foi o dos jovens de gerações anteriores, mas hoje parece deslocado na face multifacetada da sociedade global. Segundo entrevista do diretor, a pretensão era a de alavancar reações, assim como aquelas que levaram a queda do muro.

A confusão dos jovens quanto à prática política leva-os das boas intenções ao despego pela luta política democrática. De jovens socialistas passam a jovens terroristas. Pelo que li na rede, a versão exportação, não foi o caso do Brasil, suprime a referência explícita a transformação.

Enfim, um filme para pensar. A história ensina, mas muitas vezes somos surdos e cegos.