terça-feira, julho 29, 2014

¿Conoces la Isla del Sol?

Eu ainda não conheço, mas meu filho Julio Cesar conhece.  

A cena onde essa pergunta aparece é uma das grandes cenas do filme Días de Pesca (Filha Distante) de Carlos Sorin.  Nela, Marco encontra um grupo de Calí para comer mexilhões, aqui a participação da atriz que faz a pergunta é marcante.  Esse grupo de viajeros, jovens, se assusta ao saber que Marco, 56 anos, pouco conhece da América.  O diálogo, aí travado, lembrou bastante às cenas da novela Avenida Brasil: todos falando ao redor da mesa, ao mesmo tempo; só que a “mesa”, no caso, são pedras à entrada de uma caverna a beira mar, onde os viajeros estão acampados.  Completo domínio do movimento de câmera, alinhado a um diálogo concorrente: nota dez.


O encontro de Marco com o treinador de boxe, na lanchonete do posto de gasolina, é, também, excelente.  A posição da câmera, a luminosidade, a simplicidade da cena é de tal, que leva o espectador ao lugar.  A sequência que aí se desenrola é magistral, humana: mostra a aproximação de dois homens, de origem distinta, de um mesmo país, numa conversa aberta e reveladora de cada um e de seus contextos.


A explicação do experiente pescador sobre como pescar tubarões, sobre o equipamento, sobre os movimentos é também de uma realidade incrível e natural, ao ponto de ser poética. 


O controle de luz no rosto de Victoria Almeida na cena da mesa de jantar com Alejandro Awada é demonstração de técnica exemplar, marca, de uma maneira intensa, o rosto da jovem filha, ante a um pai ausente.


A preocupação com a integração latino americana de Carlos Sorin é de uma elegância extrema: estão no filme o Brasil, o Peru, a Colômbia e a Bolívia de uma maneira tão inteligentemente costurada que pode passar desapercebida.  A presunção de que uma lutadora da  Bolívia, que o treinador brinca dizendo parecer-se com Evo Morales, seria uma luta fácil, a fala do treinador boliviano, e a sequência do resultado da luta é um tapa com luva de pelica.


Nota-se também uma preocupação especial do diretor ao apresentar seu país, todos os ambientes do filme são limpos, as coisas estão no lugar, por mais simples que seja o lugar: do hotel, do hospital, da casa da filha em Jamarillo, do posto de gasolina.  A estética “clean” dos lugares, ressalta os tipos humanos que aí habitam.


Como disse no meu Twitter: um filme essencialmente humano.  Tanto me chamou atenção, que estou a escrever aqui, antes de falar sobre a Copa do Mundo de 2014:  voltarei.