segunda-feira, janeiro 28, 2008

Palavras de Sabedoria

Só agora, tive a oportunidade de ver o filme que Emilio Esteves fez para homenagear Robert Francis Kennedy. Irmão do presidente Kennedy, Robert F. Kennedy foi "Attorney General" (advogado geral da união) e Senador. Morreu em 1968 quando disputava a indicação do partido democrata para concorrer a presidência.

O filme de Esteves usa da ficção para mostrar vidas de americanos no contexto do hotel Ambassador, onde ocorreu a tragédia. Um elenco de excelente atores compõe um mosaico que procura retratar, de certa maneira, a sociedade americana no final dos anos 60.

A morte de Bob Kennedy, como era conhecido, ocorreu poucos meses depois da morte do líder pacifista Martin Luther King.

O filme termina com um discurso proferido por Kennedy no dia 5 de Abril de 1968 em Cleveland, Ohio. O discurso é um reflexo da morte de Luther King, e é uma ode ao pacifismo. Seu texto original encontra-se aqui. Tomei a liberdade de traduzir partes que incluo a seguir. Veja como seu texto é atual, aplica-se ao mundo todo, e é tristemente profético (tem quase quarenta anos).
-------------------------------------------------------------------
(03/05/2013) -- Os elos acima foram descontinuados, mas uma busca no You Tube levará a outros vídeos.  No entanto, muito deles foram editados para suprimir uma parte do discurso.  A Wikipedia aponta para o WikiSource, onde acredito que o texto original esteja intacto.  Veja aqui.
-------------------------------------------------------------------
Nós, ainda, aparentemente, toleráramos um aumento no nível de violência que ignora a nossa humanidade comum e as nossas reivindicações de civilidade. Nós aceitamos calmamente relatos de jornais sobre matanças que são feitas em outros cantos do planeta. Nós glorificamos mortes nos filmes e nas telas da televisão e chamamos isso de diversão (entretenimento). Nós facilitamos que homens de diferentes níveis de sanidade possam adquirir armas e munições como quiserem.

No entanto, existe outro tipo de violência, mais lento, mas tão mortalmente destrutivo como um tiro ou uma bomba na noite. É a violência das instituições; indiferença e inanição e lenta decadência. Esta é a violência que aflige os pobres, que envenena as relações entre os homens, porque sua pele tem cores diferentes. Esta é a lenta destruição de uma criança por fome, e as escolas sem livros e casas sem calor no inverno.

Eu não vim aqui para propor um conjunto de medidas específicas, nem existe um único conjunto. De maneira geral nós sabemos o que deve ser feito. Quando você ensina um homem a odiar e temer seu irmão, quando você ensina que existem homens inferiores por causa de sua cor ou de suas crenças ou pela política que ele abraça, quando você ensina que aqueles que diferem de você ameaçam sua liberdade ou seu trabalho ou sua família, então você também aprende a enfrentar os outros não como co-cidadãos, mas como inimigos, para que sejam abordados não com cooperação, mas com conquista; para serem subjugados e dominados.

Nossas vidas neste planeta são demasiadas curtas e o trabalho a ser feito é enorme, para deixar que esse espírito floresça por mais tempo em nossa terra. Claro que não podemos aniquilá-lo com um programa ou uma resolução.

No entanto, podemos, talvez, lembrar, se apenas por um momento, que aqueles que vivem conosco são nossos irmãos, que eles dividem com a gente o mesmo curto momento da vida; que eles procuram, como nós procuramos, nada mais do que a oportunidade de viver suas vidas com um propósito e em alegria, obtendo a satisfação e regojizo que conseguirem.

Certamente, esse elo de fé comum, esse vínculo por uma meta comum, pode começar a nos ensinar alguma coisa. Certamente, podemos aprender, pelo menos, a olhar para aqueles, ao nosso redor, como companheiros, e certamente nós poderemos começar a trabalhar com um pouco mais de afinco para amarrar as feridas entre nós e para tornarmos-nos, em nossos próprios corações, irmãos e conterrâneos uma vez mais.

On the Mindless Menace of Violence
Robert F. Kennedy
City Club of Cleveland, Cleveland, Ohio
April 5, 1968

terça-feira, janeiro 22, 2008

Rosa Passos

É incrível, que, só agora, eu tenha conhecido Rosa Passos.

Graças a Ivete, descobri essa outra magistral cantora baiana.

Sua voz, como muitos comentam, lembra a de João Gilberto, mas sem comparações.

Simplesmente a voz, a entonação, a dicção de Rosa Passos ...

Conheci-a ontem, ao ver no YouTube o vídeo Dunas, que canta com Ivete.

Já vi várias vezes. É simplesmente uma obra de arte.

Se duvidam vejam aqui.

Prestem especial atenção a parte que fala do "alecrim".

Além disso a própria música e letra são leves, como leve é a voz de Rosa Passos.

sábado, janeiro 19, 2008

Contas Nacionais

Um dos aspectos importantes de todo indivíduo ou organização é controlar suas despesas, para no mínimo saber onde estão sendo utilizadas as receitas auferidas. Quando as despesas são de uma organização com vários sócios, esses sócios certamente gostariam de saber como as receitas estão sendo utilizadas, isto é, onde o dinheiro recebido está sendo gasto.

Pois bem, um estado também tem sua contabilidade, e no caso os cidadãos deveriam saber onde o dinheiro está sendo gasto. No entanto, poucos, normalmente economistas, ficam interessados em analisar as contas nacionais. Essa semana uma notícia no jornal O Globo me chamou a atenção: falava de um relatório do Ipea sobre Despesas Correntes da União. Fiquei curioso e fui dar uma lida. Recomendo que vejam a tabela 3 (página 15) do referido artigo. A tabela mostra que o Brasil gasta em despesas financeiras (pagamento de empréstimos) 34,1% (2006) do total de suas despesas correntes! Por que?

Porque como diz o autor do artigo, os juros relacionados a essas despesas são juros altos. Veja o que diz Ronaldo Coutinho Garcia o autor do relatório.

"Mas a principal causa do crescimento das Despesas Correntes da União não foi o aumento dos gastos sociais ou com pessoal. Quem mais impulsionou o crescimento das DCUs foram as despesas com juros e encargos da dívida. Dado que a dívida pública mobiliária federal interna, em valores reais, foi multiplicada por sete, entre 1995 e 2006, e tem sido remunerada com taxas de juros sempre das mais altas do planeta[0], é inevitável que pressione por aumento da carga tributária, comprima os investimentos públicos, exija superávits primários elevados e, mesmo assim, não pare de crescer." (Ipea: texto para discussão 1319)

Ou seja, o país gasta mais em pagamento de juros do que com despesas referentes à manutenção da máquina governamental, já que, com pessoal os gastos são 13,42% (2006) de todas as despesas e transferência para estados e municípios são da ordem de 15,90% (2006) de todas as despesas.

Portanto quando serviços básicos que deveriam estar sendo fornecidos pelo estado brasileiro deixam de ser, é bom saber como a “organização” está gastando os recursos.

Pense sobre isso.