sábado, novembro 24, 2007

“Parecia que jogávamos fora de casa”

Com essa frase o treinador da seleção brasileira, Dunga, deixou evidente um problema grave no futebol brasileiro dos últimos tempos. O treinador referia-se ao comportamento da torcida paulista no recente jogo com Uruguai.

Veja que na ótica do treinador faltou patriotismo da torcida em apoiar o time. É bastante interessante esse ponto de vista.

Penso diferente, creio que o que falta na seleção é justamente o amor a camisa.

Hoje o espírito da seleção canarinho praticamente inexiste. A seleção deixou de ser um grupo com um foco principal, que é representar o Brasil da melhor maneira possível.

Creio que a torcida paulista passou essa mensagem.

O modelo de negócio da CBF, de hoje, torna difícil a um treinador impor uma disciplina e um espírito de equipe. Já em 2002 o treinador, Scolari, precisou ter um pulso forte para conseguir o foco. Não basta colocar em campo os melhores jogadores: é preciso mais que isso.

Recentemente, a impressa, brasileira e portuguesa, publicou uma reportagem sobre o fato de que jogadores da seleção brasileira de 2006 chegavam bêbados a concentração! Incrível, quando na maioria dos países, estar bêbado no trabalho é justa causa.

Isso reflete a dificuldade de gerenciar os jogadores. É um problema complexo.

Claro que esse problema não ocorre só com o Brasil, é baseado numa complexa rede de interesses e de um modelo onde o atleta é tratado como uma “commodity”, ou seja, ele passa a ser algo com valor de mercado e com forças do mercado interagindo sobre ele: são empresários, patrocinadores, mídia, empresas de marketing, enfim uma cadeia de valor complexa que passa a circundar a figura do jogador. Nesse novo cenário é muito difícil que o indivíduo tenha uma visão mais local e voltada para um interesse coletivo, quando todo o esquema do mercado é voltado para a mercadoria: o jogador.

Claro que esse jogo de interesses beneficia, em parte, o jogador que passa a ter um status condizente com os interesses que estão em jogo. Os grandes astros do futebol passam a ter status de cidadãos de primeiríssima classe no mundo global. São indivíduos reconhecidos em todo o mundo e seu reconhecimento é primeiro pessoal, depois relacionado com seu time atual e depois com seu país de origem, que, em alguns casos, não é mais o único país de que é cidadão.

Veja que a frase título é emblemática: quando é que teremos de volta uma seleção brasileira que considera estádios brasileiros como sua casa?

Nenhum comentário: